Acordei as 6h, aos berros da minha madrinha. Entrei automaticamente em um frenesi inédito que seria minha realidade durante muito tempo. A água gelada pela manhã para mim era uma novidade bastante desagradável.
Catarina estava me passando o seu ritmo insano matinal como ela faz com todo mundo. Minha irmã parecia ser imune a pressa da minha tia. Toda essa pressa me deixou bem incomodado.
Entramos no carro. Partimos para casa forte. Paramos numa rua comum, e entramos em um portão perfeitamente comum. Lá dentro, tudo parecia muito simples. Simples demais.
Lembro de entrar na sala e todos me olharem com um olhar engraçado. Ser aluno novo tem suas vantagens e desvantagens. Lembro de umas caras sorrindo e perguntando meu nome. Lembro de ser uma criança muito tímida. Lembro de estar muito irritado, frustrado, triste.
Eu precisava achar uma mesa. A única mesa disponível tinha duas meninas. Acho que uma delas me convidou pra sentar. As duas se mostraram incrivelmente educadas e amigáveis, porém, eu as repeli até o último momento. Eu estava inseguro, e quando eu estou inseguro, eu faço de tudo pra voltar a me sentir seguro.
Elas eram a personificação da minha indiferença com aquilo tudo. Elas amavam a situação delas, eram amigas inseparáveis. Eram residentes daquele bairro e apaixonadas por aquela escola. Ambas tinham irmãos em salas mais avançadas. Ambas representavam tudo aquilo que me dava raiva.
Essas duas meninas acabaram sendo o bode-expiatório da minha raiva, da minha indiferença. Elas se tornaram a prova viva que eu não sirvo pra ser sociável. Isso se tornou um fantasma que vem me perseguindo desde muito tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário